• Por volta do sétimo mês de gravidez, eu sentia que finalmente estava diante de um problema e comecei a virar motivo de piada.

    Esta é uma coluna de ficção criada pela Capitu

     

    Lembram do meu dilema para escolher o nome do meu filho? Bom, ele seguia sem solução...

    O lado triste de estar indecisa eram, é claro, as sugestões e o olhar de reprovação. Sim, as pessoas já começavam a opinar antes do bebê nascer. Durante oito meses, meu filho colecionou diversos nomes, o que causava sempre aquele desconforto depois da questão: “Oi querida, e como vai o pequeno Hugo?”. “Então, agora ele é Luis”. Pausa longa, seguida pelo discurso moralizante: “você sabe que é importante decidir logo, né? A criança tem a cara do nome que dão a ela”. Nova pausa. Sugestões pouco proveitosas: “você já olhou o significado do nome na internet?”. Ah, jura?! Não tinha pensado nisso! Como se eu não tivesse passado os últimos meses estudando a etimologia de cada nome e colocando em ordem decrescente de interesse no Excel, organizado em colunas. Minhas favoritas: “apelidos” (nenhuma chance de dar um nome cujo diminutivo fosse desmoralizante) e “astrologia e afins” (que pela soma das letras me dizia a chance dele se tornar um adulto bem-sucedido).

    Por volta do sétimo mês, sentia que finalmente estava diante de um problema e começava a virar motivo de piada. Diante do meu desespero, meu marido, que tem nome duplo, começava a sugerir os nomes de seus antepassados. Sinto muito pela homenagem, mas em nenhuma hipótese meu bebê já iria nascer com o nome de um sexagenário. Crianças com nomes de idosos são extremamente desconcertantes.

    Fim da discussão. Deixei de ouvir sugestões. Naquele momento, o pequeno Vitor (sim, ele também foi Vitor), me acompanhava a muitas sessões de cinema. Não só pelo filme, mas, principalmente, pelos créditos. Fiquei obcecada. Enquanto todo mundo saía contente do cinema, eu sacava meu caderninho de jornalista e tomava nota das letrinhas que subiam. Tantas opções maravilhosas! Àquela altura já estava cogitando fazer à moda francesa e dar três nomes à criança. Quando ele ficasse velho, que decidisse qual gostaria de usar.

    Mas a verdade é que, embora o meu bebê tenha ganhado muitos nomes durante a gestação, eu não me sentia confortável com a minha escolha. E foi então que ao entrar no oitavo mês, organizando a minha estante de livros, vi o primeiro volume de Harry Potter e me lembrei de como este livro tinha marcado a minha adolescência. No rádio, tocava "João e Maria", do Chico Buarque. Eu ri e pensei: Chico. Até que não é mau como apelido, hein? Neste momento, meu cérebro parou. Como não havia pensado nisso antes? Não tive mais dúvidas. Mesmo se ele não tivesse a melhor numerologia ou se nem mesmo estivesse no meu Excel, eu havia escolhido. Ou melhor, ele havia escolhido. Dentro de um mês, nasceria Francisco. Ou Chico. Não é o bruxo que escolhe a varinha. Mas a varinha que escolhe o bruxo. Harry Potter é um bom livro, afinal.