• A maternidade tem o poder de mexer com a mulher de tal forma que consegue abalar as estruturas até da mais convicta workaholic.

    Com a chegada da maternidade, muitas mulheres começam a repensar suas escolhas profissionais e trocar aquele trabalho de oito horas diárias por um que lhes dê maior flexibilidade, garantindo mais tempo perto de seus filhos. Que mãe nunca pensou nisso? A maternidade tem esse poder de mexer com a vida da mulher de tal forma que consegue abalar as estruturas até da mais convicta workaholic. Mas, como todas as decisões importantes na nossa vida, essa também exige planejamento, apoio familiar e organização. Daí surgem as dúvidas: por onde começar? Investir em uma nova atividade ou voltar ao antigo trabalho, buscando maneiras de adequá-lo à nova realidade.


    Vale lembrar que o número de mulheres empreendedoras no país não para de crescer, são cerca de sete milhões, um crescimento de 21,4% nos últimos dez anos. Deste total, 70% têm filhos. A boa notícia é que há vários grupos que apoiam as mães empreendedoras. Um deles é o Maternarum, criado por um grupo de quatro mulheres, entre elas, a paranaense Gandha Romenski. Ela vivia o dilema de ter que voltar ao mercado de trabalho após a licença maternidade.


    “Eu era promotora de eventos e, meu marido, policial militar. Ambos tínhamos escalas absurdas. Eu não queria deixar meu filho. Queria amamenta-lo até dois anos e participar da rotina dele”, lembra.


    Foi quando percebeu que tantas outras mulheres passavam pelo mesmo drama e buscavam alternativas, seja procurando um trabalho com carga horária menor ou apostando em rendas extras, como bordados, doces, decoração infantil. Na época, em 2012, elas organizaram uma feira reunindo todos os produtos produzidos por 30 mães empreendedoras de Curitiba. A ideia deu tão certo que mais de 300 pessoas compareceram.


    Surgiu aí o Maternarum, um empreendimento social que desenvolve uma rede colaborativa de mães que hoje tem mais de mil associadas, de mulheres que ainda estão começando, a outras que estão estudando a possibilidade de abrir um negócio. Além das feiras, o grupo realiza palestras e outros encontros sempre visando acompanhar as necessidades dessas mulheres.


    Outro grupo é o Empreender Materno , que fala sobre ideias de negócios, marketing e motivação, com foco nas mulheres que querem empreender. O projeto foi criado em 2013 pela jornalista Bárbara Vitoriano, mãe de duas meninas e empreendedora.


    “Decidi empreender para ter mais controle sobre a rotina e uma maternidade mais ativa e presente. Trabalho muito mais do que trabalhava nas agências, mas agora consigo viajar com elas, leva-las ao parquinho, à natação, faço as refeições... Com a minha experiência, quero dar apoio a essas mães, com conteúdo, cursos e consultoria para que elas realizem seus sonhos”, conta Bárbara.


    Segundo ela, para empreender, é preciso ter muita certeza disso, em primeiro lugar. A segunda coisa é se planejar. A terceira é estudar e, a quarta, se jogar.


    Vale lembrar que o Sebrae também oferece vários cursos gratuitos e orientação gratuita em forma de vídeos e dicas para quem quer começar o seu negócio, inclusive o passo a passo para se tornar um Microempreendedor Individual (MEI).  O site é o http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae. 

    Com a palavra, duas mães empreendedoras:


    Sempre pensei em trabalhar por conta própria, mas, se não fosse a chegada do Ravi eu teria adiado essa decisão com certeza. Trabalhava num jornal e pouco depois que minha licença maternidade terminou eu decidi pedir demissão. Eu sempre fui a festeira da família, apaixonada por decoração. Mas mergulhei no universo infantil quando descobri que estava grávida. Por isso decidi abrir uma empresa de decoração e festas infantis, a Festa Lúdica. O fato de ter uma criança na minha vida também influenciou bastante na escolha do segmento. Com certeza consigo ter mais tempo com meu filho agora que trabalho por conta própria e esse era o meu principal objetivo. Não me arrependo de nada, mas não é fácil e muitas vezes mais cansativo do que quando trabalhava com carteira assinada. Não mudei de área porque não gostava do meu trabalho. Pelo contrário, amo ser jornalista e adorava atuar como repórter. Hoje concilio o trabalho de decoração de festas com assessoria de imprensa.


    Lívia Neder, 30 anos, jornalista, empreendedora e mãe de Ravi, de dois anos e meio.


    “Eu trabalhava na área administrativa de uma empresa, e amava aquela rotina. Quando engravidei já fiquei imaginando como seria a minha vida no retorno ao trabalho. Com quem deixaria minha filha? Como conseguiria acompanhar seu crescimento? Pensava no trânsito que enfrentava diariamente e sabia que aquele tempo era precioso. Era tempo que eu deixava de estar com minha filha. Na época eu fazia alguns trabalhos extras como cabeleireira com a minha irmã. Depois que Isabella nasceu eu tive a certeza de que precisava dar um novo rumo a minha vida. Pedi demissão e me joguei de vez no ramo da beleza. Fiz cursos, me especializei e hoje tenho meu próprio salão. O fato dele ser perto da minha casa facilita demais. A rotina é corrida? Claro. De manhã saio para trabalhar e deixo a Isabella com o pai, que trabalha na parte da tarde. Meio-dia fecho o salão, corro para dar almoço aos dois e deixa-la na escolinha. Depois reabro o salão e fecho perto da hora de busca-la. Se tenho cliente mais tarde, deixo a Isabella com minha mãe. Se não, vamos enfim para casa. No dia seguinte, tudo de novo. Não tenho do que reclamar. Tenho orgulho de cada decisão que tomei e me sinto a mãe mais feliz do mundo em poder estar pertinho dela sempre. Este foi o primeiro ano dela na escolinha e tive o prazer em ver sua apresentação no dia das mães. Se eu tivesse trabalhando de carteira assinada, certamente não teria essa oportunidade. Por isso não me arrependo de nenhuma de minhas escolhas.”

    Alexandra Pimentel, 28 anos, cabeleireira, empreendedora e mãe da Isabella, de três anos.