• Quando os primeiros sintomas da gravidez do Chico surgiram, não pensei duas vezes e parti para o que me parecia mais tentador.

    Esta é uma coluna de ficção criada pela Capitu.

    Que atire a primeira fralda, a grávida que nunca fez um teste caseiro! Aham! Eu também fiz. Aqueles que me conhecem sabem que sou aberta (e instantaneamente atraída) por todo o tipo de experimentação! Quanto mais matuta e irreverente, melhor. O que significa um interesse quase imediato por mapas astrais, mágicos de bairro, nhoques do dia 29, vizinhas entendidas de feng shui e cachorros que latem para o vento (isso realmente me intriga).

    Quando pequena, um dos meus passatempos favoritos era me sentar em uma poltrona vermelha no canto da sala da minha avó e ouvir as histórias do tempo de roça. Um festival de absurdos, para os incrédulos. Para mim, um mundo fantástico que deixaria a geração do Crepúsculo de cabelos em pé. Os vampiros de hoje eram os nacionais curupira e saci-pererê. Os magos poderosos ganhavam aura bastante brasileira na figura do curandeiro de barba longa, que andava pela cidade com uma túnica branca e sandálias de couro (uma espécie de Gandalf lampeão). Durante anos, sonhei em visitar aquela cidade incrustada em um desses interiores que parecem parados no tempo. A ocasião da viagem, infelizmente, nunca surgiu; eu cresci, mas não me curei dessa pequena fraqueza pela magia.

    Talvez por isso, quando os primeiros sintomas da gravidez do Chico apareceram, não pensei duas vezes e parti para o que me parecia mais tentador: os testes caseiros. Minha lista se resumiu aos clássicos: o da água sanitária, o do vinagre e o da pasta de dentes. E embora estivesse particularmente inspirada pela tradição milenar egípcia de diagnosticar a gravidez por meio de uma análise do efeito da urina em grãos de trigo e cevada, deixei de lado pela falta dos ingredientes básicos na minha dispensa.

    A grosso modo, todos os testes têm um objetivo: fazer a urina mudar de cor. Simples, certo? Bom, na verdade, é aí que começa o problema. Embora exista uma quantidade enorme de receitas na internet, é quase impossível encontrar informações coerentes sobre a natureza do recipiente ou sobre a quantidade de cada um dos compostos.  

    Por minha conta e risco, resolvi variar: em uma hora, eu tinha transformado meu banheiro em um laboratório à la Breaking Bad do bem. Minhas amostras tinham diferentes proporções, cores, cheiros e lotavam o chão do banheiro.  Meu gato, olhava todo aquele absurdo perplexo e indiferente, como um bom gato.

    Na manhã seguinte, era hora do check final. Infelizmente, meus testes resultaram em um verdadeiro fiasco, como eu intimamente previa: o cloro não mudou de cor, mas a água sanitária sim, em duas das proporções realizadas. A minha pasta de dentes ganhou uma tonalidade híbrida entre azul e amarelo, o que eu atribuí às propriedades de branqueamento do produto mais indicado pelos dentistas. A minha casa estava empestiada com o cheiro das minhas experiências e eu não tinha um resultado concreto. Na dúvida, à noite, no bar com amigos, iria pedir um suco.

    Antes de finalmente passar na farmácia, resolvi apostar em um teste que não falhava. Durante anos vi mulheres e mais mulheres entrarem na casa da minha avó para diagnosticar doenças ou predizer o sexo de seus bebês. As receitas de cura eram muitas: “Vai tratar este rim, menina. Ele não anda bem. O que você tem é fraqueza! Toma um banho de sol que melhora.” Claro que para minha avó metade dos males se resumia a um bom chá de boldo e descanso. Mas quem sou eu para questionar seus métodos poucos ortodoxos. Nunca vi um diagnóstico impreciso ou alguém que voltasse para reclamar.

    E foi por isso que, depois do fracasso dos testes caseiros, dei uma passada como quem não quer nada, para vê-la. Se não estivesse grávida, pelo menos teria direito a um belo almoço com tempero mineiro. Me prostrei na poltrona da minha infância, quando ela, segurando uma enorme porção de couve com boas doses de bacon, soltou: “come direitinho, principalmente o feijão, ele é ótimo para o bebê. É rico em ferro e evita falta de ar. Coloquei um pouco de beterraba nele para ter certeza que ele vai crescer forte e grande”.  Com o meu desconcerto, ela soltou uma daquelas risadas que só ela sabe dar, seguida de um “Acertei, é?” Disse a ela que não sabia. Ela me deu uma bela olhada e pediu para eu me aproximar. Colocou a mão na minha barriga, tocou no santinho que carrega sempre em um cordão dourado de bijuteria e eliminou minhas dúvidas. “Volta aqui dentro de um mês para eu olhar sua barriga e aí te digo o sexo.”

    Claro que voltei. E mais uma vez, ela acertou.