• "Não ousarás pensar em sair de férias sem seu filho". Um olhar sincero sobre a necessidade de ter um tempo só para você.

    Esta é uma coluna de ficção criada pela Capitu

    Esta semana vi um post de uma amiga no Facebook. Uma daquelas publicações salpicadas com fotos de lugares paradisíacos e legendas aventureiras que nos lembram o quanto a nossa vida anda monotemática. Me dei conta de que nos últimos tempos havia deixado completamente de lado alguns dos meus maiores hobbies para me dedicar ao Chico, meu filho. Fazia pelo menos três anos que eu não postava uma foto em que eu não estivesse com a raiz do cabelo por fazer, com as roupas manchadas e aquele olhar perdido de quem acabou de domar um leão. A verdade é que, se aos 20 e poucos minhas férias foram sinônimo de cerveja com os amigos, aos 20 e muitos, vinho com o marido, os 30, definitivamente, inauguraram uma nova fase bem menos etílica: o leite e o bebê. Quando foi que me tornei uma mulher que só fala sobre fraldas?

    Imediatamente comecei a me imaginar em uma praia deserta na companhia de um livro e um desses sucos detox do momento. No meu delírio, acordava às 11h, com pés descalços, pronta para um café reforçado e passava o dia em uma espreguiçadeira. Meu marido aparecia só depois: me propondo um jantar num bangalô à beira-mar (sim, eu sonho alto, mas quem nunca?). Voltei à realidade com a sensação de quem tinha acabado de cometer o oitavo pecado capital de uma jovem mãe: "não ousarás pensar em sair de férias sem seu filho".

    E a culpa, é claro, me consumiu. O objetivo de formar uma família não é passar o máximo de tempo com ela? Se eu já trabalho em tempo integral durante a semana e faço malabarismos para ver o Chico, não deveria morrer de vontade de ficar com ele? É normal invejar as férias das amigas sem filhos? Tenho que admitir que com o passar dos anos, meus finais de semana na praia se reduziram a uma busca interminável pelo regador perdido na areia. Eu não me lembro mais de quando foi a última em vez que me bronzeei sem ter medo do meu filho se perder, ser levado por uma onda ou atacado por um caranguejo. Lá no fundo, eu sentia que eu precisava escapar...

    Foi por isso que chamei algumas amigas para um almoço. Trouxe a pauta indigesta para a discussão e o assunto dividiu a mesa. De um lado, umas defendiam que esses momentos eram vitais para criar laços familiares; do outro, outras levantavam a bandeira da necessidade de independência desde cedo, sob o risco de mimar demais as crianças. Felizmente, nos dois partidos, encontrei a redenção. Uma amiga disse que há pelo menos quatro anos trabalha secretamente em uma lista de destinos para visitar sem os filhos. Já outra, contou que antes de planejar a gravidez, visitou todos os lugares onde não poderia estar nos próximos dez anos só para ter certeza de que não iria cair em tentação.

     A história mais emblemática, foi, é claro, a da tão sonhada segunda lua de mel, que virou uma espécie de tabu familiar. Fazia anos que essa amiga e seu marido partilhavam o desejo de deixar a criança nos avós maternos e curtir alguns momentos sozinhos. Falavam disso com frequência, então, quando a filha, Clara, completou quatro anos, decidiram que havia chegado a hora. Infelizmente, o resultado foi penível, a saudade foi insuportável. Passavam horas e horas no Skype e quando não estavam em contato com a menina, se sentiam péssimos pais. O remédio foi encurtar a viagem e compensar a culpa com uma dúzia de souvenirs do aeroporto. A Clara, ao que tudo indica, havia se divertido enormemente com os primos.

    Isso tudo me faz pensar: Será que existe uma fórmula? Quando é o momento de limitar o tempo dedicado apenas aos filhos? Seja qual for a resposta, já foi um alívio saber que outras mães ousam pensar como eu. Talvez o meu pecado não seja tão grande assim. Neste sábado, retomei as minhas aulas de Yoga e deixei o Chico sozinho com o pai.