• Tiramos as principais dúvidas das mães sobre amamentação com uma especialista. Veja quais são os principais desafios e como resolvê-los.

    Eu achei que amamentar fosse tão automático quanto ser mãe: se quando nasce um filho, nasce uma mãe, então essa mãe vai amamentar. Não necessariamente. Não se tiver mamilos invertidos, prótese, redução de mama, se sentir muita dor, o leite não descer ou se secar - e o meu secou. Para uma mãe que sempre sonhou em viver o momento mágico-de-filme do filho mamando no peito, do olho no olho, da mãozinha segurando o nosso dedo, a notícia da mamadeira cai como uma bomba. Chorei, me julguei e repassei a gravidez inteira na minha cabeça tentando descobrir onde errei - se foi o chocolate que comi, a noite que não dormi ou aquela longa escada que subi. O meu sofrimento durou até eu dar a primeira mamadeira. Foi quando descobri duas coisas: eles também olham no nosso olho e a mãozinha também segura o nosso dedo quando mamam na ‘dedêra’.

    Desabafo da apresentadora Fernanda Gentil


    Um dos momentos mais aguardados pelas mães é o de ter o filho nos braços e começar a amamentar. Algumas mulheres se adaptam mais rapidamente, enquanto outras podem encontrar problemas no caminho - como a apresentadora Fernanda Gentil - que tornam a experiência nem um pouco encantadora. Pouco leite, seios rachados e dor são alguns problemas que podem acontecer. Mas, calma, mamãe! O leite materno é fundamental para o bebê e traz uma série de benefícios para você e seu filho. Então, se você tiver dificuldades, mas quiser persistir, algumas medidas podem te ajudar.


    O blog da Infanti conversou com a psicóloga Priscila Monteiro, especialista pela UFRJ em saúde da mulher. Ela diz que encarar a amamentação como algo natural e instintivo só gera exigências, frustração e culpa. E tudo isso interfere na hora de amamentar.


    “É preciso deixar-se disponível para este momento de aprendizado com o bebê. Um momento de conhecer seu corpo e as necessidades dele, que ainda é um estranho. Amamentar é muito bonito sim, mas pode haver dor, cansaço, sono, choro, tristeza, tudo junto. E o importante é saber que não se precisa passar por isto sozinha, e dar conta de tudo. É preciso dividir seus nutrientes, leite, e energia com o bebê; as dores com o outro, seja um familiar, uma amiga, uma doula, uma psicóloga, enfermeira etc. E lembrar que cada dia é de um jeito”, explica a especialista.


    O processo de amamentação pode levar até quanto tempo depois do parto?

    A partir do momento que o bebê suga pela primeira vez, já é estimulada a produção adequada. No primeiro momento, o leite produzido tem consistência mais espessa e é muito rico em nutrientes e anticorpos para o recém-nascido. Mas de fato não é aquele fluxo intenso que as mamães esperam. Parece não sair nada nos primeiros dias, mas o bebê enquanto suga, retira a quantidade que precisa e ainda estimula ainda mais a produção. Por isto se fala tanto na livre demanda: oferecer o peito e amamentar sempre que o bebê pedir, sem horários nem duração pré-estabelecidos. Quanto mais se estimula, mais se produz. Em média após o segundo dia, o leite já começa a ter a aparência mais esperada, a ser mais líquido. É bem verdade que a mulher que deseja amamentar fica apreensiva quando não nota o leite sair, e logo se torna mais reconfortante para a mãe por conseguir perceber o fluxo mais intenso.


    Que motivos podem levar à demora no processo de amamentação?

    Cada mulher vai produzir a quantidade adequada de leite para seu bebê. Quando isto não ocorre, algumas situações devem ser verificadas na relação mãe-bebê-contexto. Gosto de pensar desta forma porque muitas vezes a mãe está disposta a amamentar, o bebê tem a pega correta, mas os familiares têm demandas excessivas para a mãe, ou a família passa por uma crise financeira, ou a mulher tem a urgência de retomar o trabalho. Tudo isso cria um contexto de preocupações e estresse excessivo para que a amamentação ocorra de maneira eficiente. Acredito que cada caso é um caso único e especial. Hoje temos uma gama de profissionais bem orientados que podem ajudar. Também temos grupos de apoio à amamentação em diversos canais acessíveis.


    As massagens ajudam a estimular a amamentação? Existe uma forma correta de fazer?

    As massagens feitas no seio ajudam desobstruir os canais por onde circula o leite, evitando que a mama fique "empedrada". É feita sempre na direção do mamilo para a parte superior da mama e em movimentos circulares, sendo que uma das mãos apoia a mama e a outra massageia. O fluxo do leite é estimulado com o sugar do bebê.


    A rachadura é comum? Por que acontece e o que fazer para tratar?

    Elas são frequentes porque a pele do seio não está acostumada com o atrito que a sucção do bebê gera. Quando o bebê ainda tem a pega incorreta, pode causar estas feridas que provocam muita dor e desconforto à mulher. Existem médicos, enfermeiras, obstetras e pediatras que receitam pomadas que podem ser utilizadas para o alívio do seio rachado. Mas é importante notar que estas pomadas são seguras. Receitas caseiras como casca de frutas, chás podem infeccionar a ferida. É o próprio leite materno pode ser usado para ajudar a cicatrizar. Evitar que a região do seio fique úmida, trocando o sutiã sempre que possível por outro limpo também é importante para a cicatrização.


    Que outros problemas a mulher que amamenta pode enfrentar e como resolvê-los?

    A amamentação diz respeito a muitos outros aspectos e pode ter outras complicações. A privação do sono e o cansaço podem ser um desafio, por exemplo. Por isto, a mulher precisa contar com uma "rede de apoio" em que outras pessoas podem dar o suporte necessário nas demais situações cotidianas. Outra questão muito comum é mastite, que consiste na inflamação nas mamas devido ao acúmulo de leite. Esta pode ser tratada com massagem, compressas, ordenha manual ou mecânica, e em alguns casos, é preciso terapia medicamentosa com antibiótico sob orientação médica.

    Lembretes importantes:

    . A amamentação não deve causar dor. Se isto acontece é porque o bebê ainda não está pegando o peito corretamente.

    . Para mamar, o bebê precisa colocar quase a auréola inteira dentro da boa.

    . Quanto mais o bebê sugar, mais leite será produzido.

    . O tamanho do peito não interfere na produção de leite.

    . Não é preciso lavar nem limpar o peito antes de dar de mamar.

    . Atenção à postura. Segure o bebê de forma que suas costas e seus braços não fiquem doloridos. Use travesseiros e almofadas. O importante é que vocês estejam confortáveis antes de começar.

    . O aleitamento requer prática. E paciência. Não ceda à tentação de dar uma mamadeira de fórmula quando os primeiros problemas surgirem. Insista no peito. Tente novas posições, procure lugares tranquilos para amamentar. Este é o seu momento e o do bebê. Relaxe e lembre que a maior parte dos problemas relativos à amamentação é passageira. Logo, você e ele estarão craques!

    A Infanti incentiva mães e pais a compartilharem suas histórias. As opiniões publicadas neste texto são pessoais e não necessariamente representam a visão da Infanti.