• "Ele não dorme a noite inteira? Não é normal. O meu sempre dormiu". Nossa colaboradora Camila Pitanga descobriu que o "dormir a noite toda" significa acordar para mamar a cada três horas. 

    Meu filho só dorme bem em casa. Meu filho só dorme bem no berço dele. Ele não dorme bem ninando, não dorme no colo e não dorme na cama. Esse foi o preço que eu paguei para dormir uma noite inteira de sono. Entendo como noite inteira de sono mais de 10 horas ininterruptas.


    Sim. Porque quando meu filho era recém-nascido e acordava a cada três horas, como a maioria dos bebês, eu ouvia "meu filho dorme a noite inteira desde que nasceu". Ou "ele não dorme a noite inteira? Deve ter algum problema! Não é normal. O meu sempre dormiu".

    Então eu passei a achar que ele tinha algum problema e era o único bebê que não dormia a noite toda com 3 meses de vida. 

    Foi quando eu descobri que "a noite toda" das mães, significa dormir de 1h às 5h. Ou acordar para mamar.  Amiga, isso não é a noite toda! Mas vamos deixar isso pra depois..

    Voltando à questão do dormir bem: desde que ele passou a dormir A NOITE TODA (certo prazer em pronunciar a frase bem pausadamente para aumentar a ênfase no "T O D A"), ele também passou a dormir durante o dia. Tira cochilos de 2 horas de manhã e à tarde. Mas ele não dorme bem na rua. Na creche. Na casa de alguém. Ele só dorme por mais tempo no berço dele. E eu não durmo bem nunca. Porque é impossível dormir direito quando se está em estado de alerta a noite toda e, o som de um alfinete caindo a 100 metros de você, te desperta como se fosse uma sirene dos bombeiros.

    Antes de colocá-lo na creche, eu era bombardeada com olhares fuzilantes como se o tivesse deixando num centro de tortura. Ouvia constantemente "tadinho! Já vai pra creche? Que maldade!". Mas estranhamente nunca se seguiu à frase "fique em casa com ele. Eu te sustento e pago suas contas".


    Eu preciso trabalhar! Sempre foi bem resolvido pra mim que ele ficaria na creche porque eu preciso trabalhar. Sem dramas!

    Mas aconteceu algo que eu jurava que nunca aconteceria comigo: a culpa. Porque junto à ida pra creche, veio uma imensa sensação de liberdade. Finalmente ter um tempo pra mim. Isso deveria ser bom. Mas a culpa não deixa. Cada vez que o pego e descubro que ele não dormiu bem, me parte o coração. Principalmente se eu já tinha saído do trabalho e passei no banco antes de pegá-lo. Pode ser banco, mercado, oficina..qualquer lugar.


    Mas se eu deixei ele um tempo a mais porque eu precisava descansar, então a culpa se multiplica por mil! Como eu tive coragem de deixá-lo por tanto tempo sem necessidade?

    Então bate um desespero ao perceber que o meu bem-estar deixou de ser uma necessidade pra mim! Ser mãe não pode ser abdicar de tudo. Eu não estou sendo uma supermãe por isso. Ele não vai me amar mais porque eu deixei de cuidar de mim. Não vai aproveitar mais a mãe zumbi, com brócolis no cabelo e a mesma roupa há três dias "brincando" com ele, quando na verdade não aguenta mais ouvir a música do dinossauro falante!

    É preciso parar quando você não aguenta mais ver Discovery Kids. Quando tropeça nos brinquedos na sala. Quando sai correndo do banho sem nem passar condicionador. Quando não lembra a última vez em que almoçou uma comida quente (quente é luxo. Morna já estaria bom). Isso não tem a ver com amor. Isso é culpa.

    É preciso parar! Não é uma competição de quem cuida melhor dos filhos. Quem abdica mais. Quem se dedica mais. Você também tem a sua vida e ela não passou a ser menos importante porque você gerou outra. É uma questão urgente de cuidar de quem cuida. Sem mais culpas.
    Hoje eu vou dormir A TARDE TODA!

    Texto enviado por Camilla Pitanga, pediatra e mãe do Enrico, de 8 meses.

    A Infanti incentiva mães e pais a compartilharem suas histórias. As opiniões publicadas neste texto são pessoais e não necessariamente representam a visão da Infanti.