• Sim, tem alguma coisa na água de 2017 e até quem não pode engravidar, está engravidando. 

    Eu já aceitei que todo dia vai surgir uma novidade pouco provável na minha vida, que todo dia vai ser uma nova batalha e que eu não vou desistir de nenhuma delas. Talvez o tempo de batalha seja diferente, mas nunca vou desistir de vivê-las. Não mais.
     
    Em setembro, descobri que estava grávida e entrei em choque. Não era possível, o médico tinha acabado de dizer que eu não poderia engravidar. Eu não estava nem no meu período fértil. Entendi, então, que era pra ser. Com risco de novas tromboses, da minha visão piorar novamente, de aborto espontâneo, mas eu iria em frente. Essa era mais uma batalha a ser encarada.
     
    Eu senti medo. Medo profundo da reação das pessoas, da reação da minha família, do quanto eu seria julgada por todos. Pensei em não falar nada, pensei que talvez as pessoas ficassem chocadas se, de repente, esbarrassem comigo grávida. O medo continua aqui e essa é definitivamente a notícia mais difícil para mim. Não foi difícil dizer que minha avó tinha falecido, que meu pai tinha falecido, que eu desabei, mas dizer que eu estou grávida traz um peso social e uma responsabilidade que me assustam.
     
    Do primeiro momento até o dia 02 de dezembro, eu não fui capaz de ficar genuinamente feliz em momento algum. Não fui capaz de sentir nada além de medo. Não me emocionava em ouvir batimentos cardíacos, não tinha curiosidade em saber o sexo, nada. Eu pensava apenas na parte prática, em tudo o que é preciso comprar, em pesquisar preços e evitar gastos desnecessários. Como se eu estivesse preparando um orçamento qualquer para um cliente.
     
    Diferente de mim o pai, da criança é muito curioso e estava desesperado para saber o sexo do bebê e o médico, aparentemente, compartilhava dessa ansiedade. Então, marquei uma ultrassonografia no dia 2 de dezembro só para isso. No dia anterior, eu era pura ansiedade, assim como no dia 2 nas horas que antecederam a ultra. Não bastasse todo o meu nervosismo, o laboratório atrasou uma hora e eu já estava prestes a ter um treco. Eu já tinha feito três ultrassonografias, já tinha escutado o coração do bebê bater 3 vezes e não fui capaz de esboçar qualquer reação em nenhuma delas. E como eu me culpei por isso. Eu estava tratando tudo de maneira racional para me afastar ao máximo da realidade. Mas no dia 2, o bebê deixou de ser “o bebê”, uma coisa abstrata. No dia 2, eu vi que “o bebê” já tem coluna, fêmur e até úmero. No dia 2, “o bebê” virou “a Olivia” e eu não fui capaz de conter a minha felicidade em trazer mais uma feminista ao mundo! 
     
    No dia 2, as planilhas deixaram de fazer sentido e um macacão especial para banhos de Sol se tornou item emergencial. Às vezes a gente precisa de apoio, às vezes a gente precisa de tempo, às vezes a gente só precisa se cobrar menos e se amar mais. Dessa vez, no meu caso, eu precisava muito de um pouquinho de cada uma dessas coisas e só encontrei paz quando eu me permiti. 
     
    Não, eu não posso tomar anticoncepcional, nenhum, pelo risco de ter uma nova trombose. Não, eu não poderia mesmo engravidar devido a uma série de problemas de saúde. Mas eu nem sei como eu fui capaz de acreditar em probabilidades, né!? Justo eu que tive uma trombose na retina sem qualquer explicação lógica aos 23 anos. Sim, tem alguma coisa na água de 2017 e até quem não pode engravidar, está engravidando.
     

    Texto enviado por Alexia Chlamtac, jornalista e mãe da Olívia.

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